Quem sou eu

Talita Stamato, radialista, sonoplasta, criadora de spots comerciais. Adora ler livros de (quase) todos os gêneros, enquanto se mata nos metrôs e ônibus da vida. Tatiane Duarte, radialista, produtora de tv, alucinada por histórias sobre coisas sobrenaturais e sem o menor sentido, seja em forma de livro ou filmes.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Huum...

Esse é um trecho de um livro que eu gosto muito, que de tempos em tempos eu releio. Sempre que pego o livro na mão e começo a ler, tenho uma interpretação ainda mais profunda, parece que ele se abre ainda mais pra mim com o passar do tempo, dos anos... Essa é uma das partes que eu mais gosto (fora a parte do chapéu ou jibóia, rsrs)






(...)

O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante….
- Bom dia – disse o príncipe.
- Bom dia – disse a flor.
- Onde estão os homens? – Perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
-Adeus – disse o principezinho.
-Adeus – disse a flor.
O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. “De uma montanha tão alta como esta”, pensava ele, “verei todo o planeta e todos os homens…” Mas só viu pedras pontudas, como agulhas.
- Bom dia! – disse ele ao léu.
- Bom dia… bom dia… bom dia… – respondeu o eco.
- Quem és tu? – perguntou o principezinho.
- Quem és tu… quem és tu… quem és tu… – respondeu o eco.
- Sejam meus amigos, eu estou só… – disse ele.
- Estou só… estou só… estou só… – respondeu o eco.
“Que planeta engraçado!”, pensou então. “É completamente seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz… No meu planeta eu tinha uma flor; e era sempre ela que falava primeiro.”
Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.
- Bom dia! – disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! – disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? – perguntou ele espantado.
- Somos as rosas – responderam elas.
- Ah! – exclamou o principezinho…
E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ela era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
“Ela teria se envergonhado”, pensou ele, “se visse isto… Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade…”
Depois, refletiu ainda: “Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso…”
E, deitado na relva, ele chorou.
Então a raposa apareceu.
-Bom dia.-disse a raposa.
-Bom dia.- respondeu educadamente o Pequeno Príncipe.
-Quem és tu? És tão bonita de se olhar.
-Eu sou uma raposa., disse a raposa.
-Vem brincar comigo., propôs o Pequeno Príncipe.
-Eu estou tão triste.
-Não posso brincar contigo., disse a raposa.
- Eu não estou cativada.
- O que significada isso ? cativar?
-É uma coisa que as pessoas frequentemente negligenciam,- disse a raposa.
-Significa criar laços.
-Sim.- disse a raposa.
-Para mim és apenas um menininho e eu não tenho necessidade de ti. E tu por sua vez, não tens nenhuma necessidade de mim. Para ti eu não sou nada mais do que uma raposa, mas se tu me cativares então nós precisaremos um do outro.- A raposa olhou fixamente para o Pequeno Príncipe durante muito tempo e disse:
-Por favor cativa-me.
-O que eu devo fazer para te cativar?- perguntou o Pequeno Príncipe.
-Deves ser muito paciente.- disse a raposa. 
-Primeiro vais sentar-te a uma pequena distância de mim e não vais dizer nada. Palavras são uma fonte de desentendimento. Mas sentar-te-ás um pouco mais perto de mim todos os dias.
No dia seguinte o Príncipezinho voltou.
-Teria sido melhor voltares à mesma hora.-disse a raposa.
-Se tu vens por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais me sentirei feliz. Ás quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens por exemplo a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso criar rituais.
Então o Pequeno Príncipe cativou a raposa.
Quando chegou a hora da partida dele:
-Oh!- disse a raposa. -Eu vou chorar.
-A culpa é tua .- disse o Pequeno Príncipe.
- Tu mesma quiseste que eu te cativasse....
-Adeus.- disse o Pequeno Príncipe.
-Adeus.- disse a raposa.
-Agora vou contar-te um segredo: Nós só podemos ver perfeitamente com o coração; o que é essencial é invisível aos olhos. Os homens têm esquecido esta verdade. Mas tu não deve esquecê-la. Tu tornas-te eternamente responsável por tudo aquilo que cativas.
(...)

O Pequeno Príncipe - Antoine De Saint-Exupery
Tatiane Duarte

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